Em entrevista, presidente da Ceriluz Geração comenta os 25 anos de trajetória até a conclusão da usina.
Com a conclusão das desafiadoras escavações, especialmente a complexa construção do túnel adutor, a PCH Linha Onze Oeste se aproxima da operação plena, um marco para a Ceriluz e para a geração de energia limpa. Nesta entrevista, o presidente da Ceriluz Geração, Iloir de Pauli, e figura central na trajetória da cooperativa, compartilha detalhes sobre os principais desafios superados ao longo do projeto, a integração das equipes envolvidas e a visão estratégica por trás de mais este empreendimento.
A conclusão das escavações da PCH Linha Onze Oeste representa uma importante etapa na obra. Quais foram os principais desafios superados nesse processo e como a equipe lidou com eles?
Iloir de Pauli: Nós consideramos a construção do túnel adutor da PCH Linha Onze Oeste o principal desafio de todo o empreendimento, pela sua extensão e complexidade. A usina recebeu sua Licença de Operação Comercial agora, no dia 20 de maio, o que nos encheu de alegria. Foram mais de 25 anos de trajetória desse projeto, entre sua idealização e concretização. E o túnel, foi fator preponderante para ele acontecer. Digo isso porque o principal entrave do projeto, lá na origem, eram as questões ambientais, de forma especial a área de alague que a usina geraria. Com a implantação do túnel foi possível fazer um rearranjo no projeto, aproveitando de forma mais eficiente o relevo do terreno e com uma área de alague muito menor. Mas, claro que isso significou fazermos um túnel de aproximadamente três quilômetros, conectando barragem à casa de máquinas. Além da questão do alague, o túnel também torna desnecessário a desapropriação de áreas para a instalação de um canal, dessa forma, não impactando nos moradores próximos, que seguem com suas atividades agropecuárias no local, sem qualquer prejuízo. Por isso, a parceria com uma equipe de confiança como a da Pedra Branca é fundamental. Tínhamos essa confiança adquirida ao longo de anos de parceria, uma vez que a Pedra Branca já foi a responsável por construir outros túneis em usinas da Cooperativa. Todas essas experiências permitiram nos prepararmos para chegarmos, enfim, a essa grande obra que foi a PCH Linha Onze Oeste.
Com o enchimento do lago e a abertura do túnel adutor, como foram realizados os procedimentos para garantir a segurança ambiental, especialmente em relação à fauna íctica?
O enchimento do lago e do túnel é sempre um momento importante dentro de um empreendimento como esse, isso porque dependemos de fatores alheios a nós. Dependemos de uma autorização junto ao órgão ambiental que exige que levemos em consideração critérios ambientais relevantes. Todo projeto de construção de usinas enfrenta critérios ambientais rígidos de construção, desde os estudos iniciais, durante a construção e mesmo após sua operação, e o processo de enchimento do lago não é diferente. Realmente os cuidados com os peixes nessa ocasião é fundamental, afinal, é um momento em que ocorre mudança significativa no fluxo da água, que é deslocado do leito original do rio para o túnel adutor. É um dia em que todas as equipes técnicas são mobilizadas para garantir o mínimo de impacto, de forma especial, tínhamos o acompanhamento técnico da empresa de consultoria ambiental, que fez o monitoramento da fauna íctica. Também participaram desse ato, realizado em novembro de 2024, os conselheiros da Cooperativa, o que demonstra a importância dada a esse momento.
O senhor mencionou a participação de várias equipes técnicas e de monitoramento ambiental durante as fases finais da PCH Linha Onze Oeste. Como avalia a integração entre os diferentes parceiros e equipes especializadas nesse momento decisivo?
É preciso haver uma relação muito próxima entre as equipes de construção e ambientais, durante todo o processo de construção. Quando uma obra é bem executada, volto a dizer, com equipes e pessoas de confiança, sua conclusão é facilitada. Equipes de terraplanagem, construção civil, escavação, todas precisam estar cientes de que uma PCH gera energia limpa e esse conceito só se materializa com o respeito de cada um com as questões ambientais. Não é questão de corrigir os danos, mas sim de evitar eles e cada um tem seu papel. Sempre recebemos pareceres favoráveis em relação às questões ambientais o que nos leva a conclusão de que todas as equipes trabalharam sempre em sintonia.
Nos últimos meses, houve impactos de escassez hídrica na região. A conclusão das escavações e as próximas etapas da PCH consideraram novas estratégias para lidar com essas situações climáticas?
As questões climáticas realmente foram fatores importantes dentro da obra. Foi um passeio de montanha russa. Durante sua construção, que se estendeu por três anos vivenciamos extremos climáticos. No início, uma grave estiagem, que de alguma forma nos favoreceu na construção da barragem, visto a baixa vazão do rio Ijuí. Depois, a partir de setembro de 2023, tudo mudou, as chuvas voltaram com força chegando ao extremo em maio de 2024, quando foram registradas as enchentes aqui no Estado, como todos sabem. Apesar de não termos sido tão afetados, o volume de água que passou nos nossos rios foi algo assustador e impactou bastante a nossa obra. Os serviços foram paralisados por alguns dias para garantir a segurança dos trabalhadores, o que incluiu a escavação do túnel, também interrompido. Mas antes, tivemos que dar atenção especial às ensecadeiras, elevando sua altura e as reforçando, para não corrermos o risco delas romperem e a água invadir túnel e casa de máquinas. Felizmente, os esforços deram certo, os impactos na obra aconteceram, mas em menor escala graças ao intenso trabalho das equipes. Depois sim, mais para o final da obra, novamente registramos uma estiagem que inclusive, prejudicou a realização dos testes dos grupos geradores, por falta de água. Hoje, quando falo com vocês, felizmente com a usina já operando, registramos mais uma vez mais de 250 mm de chuva num intervalo de poucos dias. Nossos rios estão cheios. Esperamos que a chuva normalize e o nível dos rios se mantenha, mas infelizmente essa situação climática é uma realidade e temos que estar preparados para enfrentarmos.
Em relação à Pedra Branca Escavações, como descreveria a atuação dessa empresa ao longo do projeto da PCH Linha Onze Oeste? Quais foram os diferenciais que a destacaram no processo?
Como disse no início, temos uma relação de muitos anos, muitos projetos com a Pedra Branca Escavações. Juntos já fizemos os túneis das usinas José Barasuol, RS-155, Ijuí Centenária, Igrejinha, enfim, todas as usinas que construímos e que possuem túnel. Juntas essas obras totalizam praticamente sete quilômetros de túneis escavados. Isso mostra que os túneis se tornaram um elemento importante em nossos projetos por diminuir os impactos ambientais. Mas só são possíveis por que temos confiança no trabalho realizado pela Pedra Branca. O grande diferencial das equipes da Pedra Branca é sua experiência nesse tipo de trabalho, uma vez que sabem lidar com as surpresas que um túnel pode oferecer, como a qualidade variável da rocha, vertimento de água, enfim, tantos fatores que podem ocorrer debaixo do solo. A PCH Linha onze foi um bom exemplo disso, uma vez, apesar de todas as sondagens realizadas para avaliar a qualidade da rocha no local, ao executar o túnel houve grande variação na qualidade da rocha, e a Pedra Branca demonstrou enorme capacidade técnica para buscar soluções e resolver estes problemas em curto espaço de tempo. Em todos os projetos que citei, nenhum deles foi igual ao outro, mas sempre alcançamos o resultado esperado e quando contratamos a Pedra Branca ficamos tranquilos em relação a isso.
Há algum episódio marcante ou aprendizado importante na convivência com as equipes da Pedra Branca Escavações durante as escavações que o senhor gostaria de compartilhar?
A relação entre a equipe da Pedra Branca e da engenharia da obra é permanente. Mas de nossa parte, talvez o fato que mais nos marque sempre seja o momento do encontro entre as duas frentes de trabalho dentro do túnel. Ele talvez represente a grande parceria entre as equipes da Ceriluz, que através da topografia marca os pontos de detonação, e da Pedra Branca, que executa o trabalho. E sempre que levávamos pessoas até a obra a pergunta que todos faziam era: as duas frentes de escavação vão se encontrar? Sempre se encontraram e aqui na PCH Linha Onze não foi diferente. No dia 13 de junho de 2024, às 17h, foi dado o último “fogo”, como se fala no canteiro de obras. A direção estava presente representada pelo presidente da Ceriluz Distribuição, Guilherme Schmidt de Pauli, também a equipe de engenharia e colaboradores, e a detonação foi um sucesso. As duas frentes se encontraram com precisão. Acho que esse é o ato mais simbólico desse trabalho conjunto e do sucesso desse empreendimento.
Agora que as etapas estruturais estão praticamente concluídas, quais são as principais expectativas do senhor para o início da operação plena da PCH Linha Onze Oeste, tanto em termos de geração de energia quanto de impacto para a comunidade local?
Estamos muito felizes com a conclusão da obra. Não foram só três anos de construção, mas foram mais de 25 anos de trabalho para consolidar essa usina. A sua conclusão é muito boa para a Ceriluz, que passa a ver o investimento realizado dando resultado, mas é também muito bom para os associados da Cooperativa, de forma especial àqueles que residem ali próximos. A usina traz qualidade de energia, primeiro pela sua geração, mas também por toda a infraestrutura de transmissão e distribuição que ela traz consigo. Construímos uma rede de transmissão, estamos implantando ao lado da usina uma nova subestação interligando todo o sistema. O nosso associado passa a usufruir de energia produzida aqui na nossa região, onde, com capacidade de geração plena, já superamos a demanda necessária para atendê-los. Mesmo aqueles que não são nossos associados, consumidores próximos, se beneficiam com um sistema robusto e autossuficiente. Hoje, graças as nossas usinas e subestações, aliados a projetos de geradoras e distribuidoras coirmãs, podemos colocar Ijuí como um polo de geração de energia limpa e renovável a partir de PCHs e CGHs, o que nos coloca no caminho certo para o futuro, onde tanto se fala em transição energética.
Olhando para o futuro, como as experiências vividas neste projeto influenciarão o planejamento de novas parcerias e obras de geração de energia dentro da Ceriluz?
Ao longo dos quase trinta anos de trabalho voltado à geração de energia, dentro da Ceriluz, construímos uma equipe própria preparada para tocar nossos projetos, resultado de muita troca de conhecimento entre a Ceriluz e seus parceiros. Agora não foi diferente. Mas apesar desse conhecimento acumulado, não temos como construir usinas sozinhos e durante esse período que mencionei, com certeza construímos parcerias sólidas, incluindo a Pedra Branca Escavações, que nos permitem alcançar o sucesso de nossos empreendimentos. Vamos seguir fomentando essas parcerias, até porque, temos mais alguns projetos em andamento, ainda aguardando licenças. São projetos menores, uma vez que nossos rios não comportam mais obra do porte da PCH Linha Onze, mas que também exigem todo o cuidado e respeito ao meio ambiente na hora da execução. Eu agradeço aos parceiros que temos e com certeza nos encontraremos em muitos dos desafios que a vida ainda nos trará.