Mudança estrutural e novos sistemas elétricos fortalecem segurança e produtividade.
A segurança em operações de alto risco, como a escavação de túneis com explosivos, transcende manuais e protocolos para se tornar um pilar cultural e tecnológico. Na Pedra Branca Escavações, essa premissa é um alicerce de atuação.
Tal abordagem foi apresentada recentemente no II Encontro Técnico de Explosivos Industriais (Blastech), em São Paulo. No evento, a empresa demonstrou como a união entre a autonomia de seus especialistas e investimentos em tecnologia de ponta estabelece novos paradigmas para o setor.
A materialização dessa filosofia ocorre na linha de frente. Para o blaster da Pedra Branca Escavações Fabio Manica, a segurança orienta todas as etapas do trabalho. “Ela é primordial para tudo que envolve explosivo, desde o transporte, aplique e manuseio. Sem a segurança não tem como a gente trabalhar”, afirma o técnico.
Com uma década de experiência e nenhum acidente em seu histórico, ele ressalta a dimensão da responsabilidade. “Se eu não voltar para casa, provavelmente não vai voltar a equipe inteira. Tenho que me policiar, policiar os colegas e exigir total compreensão deles na atividade.”
Essa autonomia, descrita por Manica como "voz ativa", é um diferencial deliberado da companhia. “Eu venho de empresas um pouco menores que não davam tanta atenção na área de segurança ou voz para nós, blasters”, compara. Na Pedra Branca, a decisão de prosseguir ou não com uma detonação, caso a frente de serviço sugira risco, cabe ao especialista. Essa delegação de poder é um dos pilares de uma cultura que busca mitigar os riscos inerentes à atividade.
A diretoria técnica da empresa sustenta essa estrutura com uma visão clara. “O nosso principal valor é a vida”, declara o diretor técnico da Pedra Branca Escavações, Luiz Guilherme Isfer Maciel. Ele explica que essa premissa está no cerne da fundação da companhia e se reflete na busca pela engenharia de excelência. “A engenharia é fazer a transformação que a sociedade precisa, mas sem desperdício e com respeito. Não é só atender o cliente, mas fazer isso com uma certa elegância e minimizando os impactos”, pontua.
Para consolidar essa autoridade do especialista, a empresa promoveu uma mudança estrutural em sua operação. Maciel relata que, no passado, a figura de um "encarregado geral" centralizava as decisões, muitas vezes entrando em conflito com os planos de fogo tecnicamente elaborados pela engenharia.
Após identificar que essa hierarquia gerava ocultação de informações e atritos, a companhia extinguiu a função, distribuindo a responsabilidade para líderes de equipes especializadas. Hoje, durante o carregamento com explosivos, a equipe responde diretamente ao blaster, que é capacitado para ser a figura central dentro do túnel.
A cultura de segurança é reforçada por investimentos em tecnologia. Uma das medidas adotadas pela empresa foi a eliminação do "conjunto espoletado", um sistema de iniciação com pavio de tempo de queima impreciso, associado a acidentes fatais no setor. Após avaliar soluções sem fio, que apresentaram interferência em túneis, a Pedra Branca desenvolveu um painel de detonação elétrico próprio.
O sistema utiliza um cabo de cobre que permanece em curto-circuito como padrão, garantindo que esteja inativo. Apenas momentos antes da detonação, após o isolamento da área, o curto é removido, o sistema realiza uma checagem e o acionamento é instantâneo.
“Isso dá uma segurança muito grande para todo mundo, pois você não precisa voltar lá dentro do túnel para ver o que aconteceu se não detonou”, explica Maciel. Outras medidas incluem o treinamento contínuo para a "amarração do fogo" e a implantação de um sistema para rastreamento de todos os produtos controlados pelo Exército.
Longe de ser um entrave, o rigor com a segurança impulsiona os resultados. “A segurança não briga com a produtividade; ela dá mais produtividade, porque as pessoas se sentem melhores trabalhando, mais confiantes”, argumenta o diretor técnico. Ele afirma que a empresa detém índices de produtividade elevados em comparação com o mercado, o que atribui diretamente ao ambiente de confiança e controle proporcionado pelas políticas de segurança.
A base técnica para essas operações foi um dos temas apresentados por Maciel no congresso. Ele detalhou a aplicação do Novo Método Austríaco de Túneis (NATM) com uso de explosivos, conhecido como drill and blast. A abordagem multidisciplinar integra geotecnia, engenharia e construção, adaptando a escavação e o suporte às condições geológicas locais, o que torna o resultado do plano de fogo um fator crucial para a estabilidade da estrutura.
Para ampliar a precisão, a PHI Engenharia de Explosivos, parceira da Pedra Branca, apresentou uma abordagem para a gestão de incertezas no desmonte de rochas. O proprietário da PHI, Fernando Golin, propõe tratar as variáveis do processo não como valores fixos, mas como um intervalo com determinada probabilidade de ocorrência.
Inspirado na aviação, o conceito define um conjunto de parâmetros que devem ser mantidos dentro de limites seguros durante a operação. Dessa forma, o projetista fornece à equipe de campo uma margem operacional clara para controlar fatores críticos como vibrações e o alcance de fragmentos de rocha (flyrock). Essa abordagem científica complementa a cultura de rigor, ao fornecer ferramentas que permitem antecipar e gerenciar a imprevisibilidade inerente ao trabalho com a natureza.