Erik Wunder defende novo ciclo de atuação da ABGE com foco em comunicação acessível.
A Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE) realizou, em Belo Horizonte, o 18º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental (CBGE), que se consolidou como o maior da história o organismo em número de participantes. O evento teve como tema central os "eventos extremos e sua repercussão na geologia de engenharia e ambiental", um tópico diretamente ligado às alterações climáticas e seus impactos, como deslizamentos, inundações e erosões.
O presidente da ABGE, Erik Wunder, classifica a edição como um grande sucesso. "Foram mais de 650 participantes, beirando os 700. Nós estamos muito felizes com isso", afirma. Ele estende um agradecimento especial às empresas patrocinadoras, como a Pedra Branca Escavações, por integrarem o evento. "Já registro aqui o agradecimento em especial à Pedra Branca por fazer parte disso", pontua.
O tema principal do congresso abordou as consequências de fenômenos climáticos extremos, sejam eles derivados de atividade humana ou de ciclos naturais, e sua influência direta na incidência de eventos geológico-geotécnicos. Além dessa pauta central, o CBGE promoveu discussões sobre mineração, evolução de cavas e pilhas de rejeitos, barragens, cartografia geológico-geotécnica e escassez hídrica, com foco nas questões ambientais.
Para Wunder, o sucesso do congresso sinaliza o início de um novo estágio para a associação, cujo principal objetivo é ampliar seu alcance. "Eu tenho uma expectativa muito forte da gente conseguir fazer chegar o nosso conhecimento de geocientista, de geotécnico, de conhecedor do sistema Terra, aos ouvidos daqueles que precisam ouvir isso", declara . Ele defende que a comunicação precisa ser persuasiva e transcender os debates em grupos fechados de especialistas. "O nosso papo agora é para fora. É falar com a sociedade", completa.
Ele detalha essa nova meta como um desafio comunicacional em três escalas. A primeira, que ele chama de "nós conosco", busca estabelecer uma ponte de contato mais eficaz dentro da própria geologia, entre as mentalidades analógicas, formadas antes da revolução digital, e as digitais. O segundo desafio é a comunicação com os engenheiros de outras especialidades. "A geologia usa termos científicos específicos que nós colocamos no relatório e os nossos colegas engenheiros não entendem. Cabe a nós saber colocar de forma que seja inteligível e compreensível", explica.
O terceiro e mais amplo desafio é a comunicação com a sociedade em geral. "Todo mundo tem que entender que a gente nunca esteve onde a gente está hoje. A gente nunca foi tão fundo em mineração, a gente nunca foi tão alto em edifícios, a gente nunca foi tão longe ocupando o planeta Terra", analisa o presidente da ABGE. Ele argumenta que os profissionais que entendem o sistema Terra precisam comunicar, de forma clara, a urgência de uma mudança de rota em busca da sustentabilidade.
Essa preocupação com o diálogo se estende à relação entre o mercado e a academia. Wunder observa que o setor privado atua como consumidor do "produto" que a universidade fornece, o que torna a colaboração fundamental para o controle de qualidade e a formação de novos profissionais. O congresso refletiu essa visão ao incluir sessões temáticas de ensino e inovação tecnológica abertas à participação de profissionais do mercado, e não apenas a estudantes e acadêmicos.
A relação com a Pedra Branca Escavações é um exemplo dessa interação. "Eu sempre tive a Pedra Branca como uma referência de escavação subterrânea", comenta Wunder. Para ele, o trabalho em túneis é a forma de intervenção humana que mais aproxima o geólogo de seu objeto de estudo. Ele cita a parceria recente na PCH Saltinho, cujos três túneis foram executados pela empresa, como uma cristalização dessa admiração mútua no seu currículo profissional.
A trajetória de Erik Wunder se conecta diretamente com os pilares da associação que hoje preside. Geólogo formado pelo Instituto de Geociências da USP e mestre em engenharia de rochas pela Escola Politécnica da mesma universidade, ele desenvolveu sua carreira em projetos de infraestrutura, especialmente em usinas hidrelétricas. Atuou em empresas como a Leme Engenharia (hoje Tractebel) e foi sócio da Estelar Engenheiros Associados, onde ainda presta apoio técnico como consultor autônomo.
Sua história com a ABGE, associação que completa 57 anos em 2025, é de longa data. Wunder desenvolveu seu mestrado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, local de fundação da associação. Antes de assumir a presidência, foi vice-presidente e representante na Associação Internacional de Geologia de Engenharia e Ambiental (IAEG). Ele encara o cargo voluntário como uma forma de retorno e um esforço para "manter a rota girando e no caminho certo".