Técnica criada nos anos 60 eliminou riscos de raios e falhas em detonações controladas.
Você sabia que a invenção de um dos sistemas mais seguros e utilizados em detonações modernas começou com um experimento sugerido a uma bibliotecária? Como um tubo de plástico com pó explosivo nas paredes internas poderia substituir sistemas elétricos complexos? E por que a detonação não explode ao longo do tubo, mas chega com precisão ao seu destino? A resposta está na história de P.-A. Persson, físico e engenheiro da Nitro Nobel, e na curiosidade de uma colega de laboratório chamada Monica Petrini — bibliotecária de formação, mas apaixonada pela ciência por trás dos explosivos.
Na década de 1960, a indústria de desmonte de rochas enfrentava um desafio: os sistemas de iniciação elétrica eram:
Ulf Langefors, presidente da Nitro Nobel e visionário na área, defendia a criação de um sistema não-elétrico mais seguro e flexível. Ele sonhava com um “fusível explosivo” que:
Mas como transportar uma detonação dentro de um tubo sem explodir o conteúdo do furo?
No laboratório de detônica da Nitro Nobel, Persson estudava o chamado efeito canal: quando uma carga de explosivo (como dinamite) está inserida em um furo de diâmetro maior, a onda de choque do ar pode gerar compressão no explosivo, desensibilizando-o (o chamado dead-pressing). Às vezes, a detonação falhava — mas surpreendentemente, retomava mais adiante. Persson levantou uma hipótese ousada:
“E se essa onda de ar comprimido, ao invés de apagar a explosão, acendesse um explosivo mais sensível depositado nas paredes internas de um tubo?”
Persson sugeriu um experimento simples à bibliotecária Monica Petrini, que havia se interessado pelas pesquisas:
Resultado esperado:
Mais destruição no tubo com PETN, mostrando que parte do pó reagiu à onda de choque.
Resultado real:
O tubo com PETN foi completamente destruído — a detonação propagou-se por todo o tubo a partir do revestimento interno com explosivo!
A partir desse experimento, Persson concluiu que era possível construir um tubo de transmissão de detonação, onde:
Esse sistema, nunca patenteado, ficou conhecido como Nonel (Non-Electric), e rapidamente se espalhou pelo mundo como uma revolução em segurança e controle em desmontes.
O sistema Nonel:
A história de P.-A. Persson mostra que, na ciência e na engenharia, grandes avanços surgem não só da teoria, mas também da observação, da experimentação — e, às vezes, de ideias compartilhadas com pessoas curiosas fora da bolha técnica.
Monica Petrini, a bibliotecária, não apenas contribuiu para um experimento crucial, mas ajudou a pavimentar o caminho para o que se tornaria um dos sistemas de iniciação mais seguros e amplamente utilizados no mundo.