Pesquisa aliada à indústria impulsiona setor de explosivos, afirma Munaretti

Engenheiro e professor aponta caminhos para o futuro da perfuração e do desmonte de rochas no país.

O engenheiro e professor universitário Enrique Munaretti, referência no desenvolvimento técnico do setor de perfuração e desmonte de rochas no Brasil, concede entrevista ao PBEsc News. Ele fala sobre a evolução do mercado, e projeta um futuro promissor impulsionado pela colaboração e pela inovação. E detalha sua dupla jornada entre a prática industrial e a pesquisa acadêmica.

PBEsc News: Professor, como é sua atuação profissional atualmente?

Enrique Munaretti: No momento, eu sou gerente técnico da Nitro, que é uma empresa que eu fundei. A empresa começou em 2003, em São Paulo, e agora a sede fica em Porto Alegre. Nós trabalhamos com toda a parte de projeto, auditoria, de treinamento e também com muita instrumentação para aumentar a eficiência de perfuração e do uso de explosivos em qualquer operação de construção civil, de mineração, entre outras. A gente está entrando agora também na parte elétrica. É uma empresa bastante inovadora, pioneira em várias técnicas no Brasil, e sempre buscando o melhor resultado para o cliente. Estamos bem consolidados no Brasil e com alguns projetos na América Latina.

Além de sua atuação na indústria, você também tem uma forte ligação com a academia. Como é isso?

Sim, eu sou professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS], em Porto Alegre. Eu leciono algumas disciplinas lá. A principal é desmonte com explosivos, e também geologia de engenharia. No momento, sou um professor com carga horária reduzida, para poder me dedicar mais à Nitro, mas eu gosto muito de lecionar, de passar informação, dessa troca de experiência e do contato com os alunos. O convívio dentro da universidade é onde se conhece muita gente, sempre tem muita novidade, muita pesquisa e, principalmente, o contato com os alunos, que sempre nos puxam, não nos deixam acomodar.

Você se descreve como uma "criatura híbrida", uma vida entre a indústria e a academia. Como essas duas áreas se relacionam?

Eu poderia dizer que tenho uma perna na academia e uma perna na indústria, sempre. E uma coisa alimenta a outra. Como eu tenho bastante experiência na indústria e continuo na indústria, eu consigo passar esse conhecimento prático para os alunos, que é uma deficiência, na minha opinião, do ensino de engenharia no país. A gente vê que, pelo menos na área de mineração, a engenharia fica muito teórica. O engenheiro não quer botar a mão na massa, é só projeto. Eu gosto das duas coisas: de projetar e de executar, de estar no dia a dia da obra. Sempre se aprende com o pessoal, desde o estagiário até o doutor, com o operador de equipamentos, com os blasters... sempre trocando informação e é assim que se evolui. Então, eu sou essa criatura híbrida.

Você teve um papel fundamental na vinda e consolidação da Sociedade Internacional de Engenharia de Explosivos [ISEE] no Brasil. Qual a sua função atual e qual a importância da sociedade para o setor?

Nós trouxemos a ISEE para o Brasil. Em 2011 ou 2012, foi fundado o primeiro chapter (representação) estudantil, lá na UFRGS, e eu sou advisor desde o início. A associação sempre funcionou como uma alavanca para melhorar, para que o setor pudesse usar novas tecnologias, procedimentos e equipamentos para maior eficiência. A gente vê uma evolução muito grande desde que a associação chegou. Alguns anos depois, foi fundado o chapter profissional, e no momento eu estou presidente da ISEE Brasil. Aliás, vai ter votação este ano para trocar a chapa, buscando uma nova gestão.

Recentemente, você esteve à frente do 3º Simpósio da ISEE. Como foi a organização?

O 3º Simpósio da ISEE foi um evento realizado pelo chapter estudantil da UFRGS, sob o meu comando, então eu fui o coordenador. Mas desde o início, lá em 2011, 2012, a gente teve eventos menores que começaram dentro da universidade. Eles foram crescendo, mas sempre como eventos nacionais. É assim que as coisas vão evoluindo. Esse último foi o maior e melhor de todos os tempos, com mais de 500 participantes.

No contexto desses eventos, você destaca a importância de parcerias. Como você vê a colaboração de empresas como a Pedra Branca desde o início?

É um orgulho falar, e fico muito contente, que desde o início quem apoiou... A Pedra Branca sempre apoiou. Claro que a minha empresa, a Nitro, também, mas foram poucas empresas lá do início, e a Pedra Branca é uma das pouquíssimas que desde o início acreditou e apoiou. A gente vê que o resultado está no próprio pessoal da Pedra Branca e nas técnicas. A evolução para todos nós foi muito boa, todos nós evoluímos muito com essa troca de conhecimento.

Olhando para o futuro, qual a sua perspectiva para o setor de perfuração e explosivos no Brasil?

Eu vejo um futuro muito bom. Acho que o Brasil tem um potencial enorme por serviços que vão demandar muito explosivo, muita perfuração. É um país que vem chamando a atenção. O próprio 3º Simpósio gerou muita curiosidade de países que nunca ligaram muito para nós, como a China e o Canadá, por exemplo, que vieram em peso. Acho que esse setor de perfuração e de explosivos vai crescer bastante nos próximos dez, 50 anos. O Brasil e o mundo têm uma demanda enorme de minerais, e o Brasil, além disso, precisa ampliar a infraestrutura, com obras de todo tipo.

E qual seria um caminho para que esse crescimento se concretize?

Acho que a gente está num setor pujante que vai crescer muito, que precisa de muita informação, precisa de muita mão de obra especializada, precisa de gente competente. Então, a melhor maneira de ter isso é a colaboração entre empresas e a colaboração entre empresas e a academia. É aí que a gente cresce.